quinta-feira, 24 de abril de 2008

A madrugada de Cristal, fino, mas estilaçado...




Era um vez esta mesma madrugada. Uma madrugada um pouco fria de uns anos idos, uma madrugada enublada, com resquícios de nuvens no ar e a possibilidade de aguaceiros.
Era calma a madrugada, aquela que era a madrugada de todos os sonhos, de todas as esperanças de todos os nossos anseios. A musica saio suave, mas mais aguerrida do que era de sue habito, mais viva do que a mortandade que havia sido sujeita! Os trompetes tocaram graves, tocaram graves por toda a terra dormente.
Das fortalezas saíram os heróis, cavalgando nos seus cavalos rumando o desconhecido.
Não temia, não receavam, nada nas suas faces dava nota de nada, pois de nada eles sabiam.
A madrugada dos sonhos de cristal começara…já foi a tanto tempo, e no entanto ainda se sente no ar o cheiro que também eles sentiram.
Na madrugada de todos os sonhos vieram, esperançosos como sempre foram, com certezas que não tinham, mas com ideias sem fim.
Na madrugada da esperança, saíram das suas guaritas os homens vestidos de verde, os que faziam a guerra e que a lançavam sobre a grande cidade.
De armas em punho entraram, sem medo, não sabiam o que faziam, tomaram as praças, os largos e as ruas daquela cidade, adormecida na esperança, temente no passado e sem rumo de futuro para alem da estagnação.
A madrugada foi longa, mais longa que todas as outras. Nunca teve fim, memo quando o sol nasceu, para lá do rio, pouco antes das sete, o dia estava ameno, e o céu azul, mas ainda erra madrugada!
Acorreram aqueles putos, de verde vestido e de armas em riste.
A madrugada era longa, como longos eram os anseios. Na madrugada depuseram os quadros que nas paredes já não ficavam bem, mudaram-nos por palavras de ordem, lançadas na confusão da madrugada.
A Bula levou aqueles que na noite se tinham sentado nos seus sofás, nas suas cadeiras de pau carunchoso. Levaram-nos para longe, como se de longe eles nada conseguissem fazer.
A madrugada foi longa, mais longa que os dias, iluminada pelas mãos daqueles que haviam feito a guerra, e que agora, nos alvores do dia, tentavam fazer a paz, com palavras e cartazes. As Candeias eram altas, soltas do jugo da corrente, das botas apertadas, e das lentes espessas.
Na alvorada a esperança, a fé, a crença e o acreditar. Todo eles se alegravam, ainda encobertos no breu, iluminados agora pelo raiar distante de uma aurora.
Cem, ou mais talvez, dias duraram aquelas madrugadas, com cantigas que o povo cantava, alegrias que o povo dizia, e todo parecia belo, tudo parecia novo, todo parecia real.
Mas deu-se o senão, depois da madrugada sucedeu-se a aurora, mas à aurora não se lhe sucedeu o dia.
Depois da luz, depois dos tímidos raios da aurora, a noite, a mais profunda, escura, temerosa noite lhe sucedeu. A ordem natural foi quebrada, como sempre havia sido.
Depois de toda a luz, a escuridão retomou, voltou para nunca mais partir, voltou para o Olimpo, retomou para onde era o seu lugar.
Todos aqueles que levaram o facho, nessa madrugada que sucedeu à noite, “adormeceram com a sensação que tinham mudado o mundo”, quando afinal foi o mundo que os mudou.
A madrugada, que era de cristal, acabou em pó! Fino pó de vidro reles e sem valor!
Na mesma ficaram as coisas, na mesma ficaram as esperanças, somente esperanças encobertas pelo breu, prisioneira da noite, amortalhada com os véus negros, os meus véus negros que sempre haviam cobrindo a grande cidade.
À aurora não se sucedeu o dia mas sim as trevas, pouco iluminadas.
Todo ficou escuro, todo ficou encoberto, mas cheio de esperança, cheio de esperança para que Abril se repita. Para que este Abril seja o Abril do dia, e não o da noite.
Para que Abril não morra! Para que sempre à Aurora se lhe suceda o dia! Para que seja sempre Abril, eu grito! Eu clamo! Eu rogo!
Senhor falta-se cumprir Abril, assim como se falta cumprir Portugal!
Um macaquinho revolucionário para que Abril seja sempre a aurora que sucede à noite e que a esta aurora lhe suceda o dia e nunca mais as trevas!
Sim, porque todos nós, mesmo na escuridão, temos macaquinhos no sótão!

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