segunda-feira, 14 de julho de 2008

Retornaste


Voltaste a aparecer, maldita sejas, voltaste a assombrar os meus sonhos, espectro maldito.
Envolta na tua mortalha de seda, salpicada de mil estrelas, retornaste para me assombrar! Voltarei eu a recorrer as magas e feiticeiras, as fadas e as olheiras para em tirarem esse teu encosto!
Como pode surgir assim do nada?! Envolta na tua resplandecência, coberta de luz, com a tua face pálida, vitria, os lábio vermelhos e o olhar doce como se doce fosse a tua alma!
Como podes-te regressar?! Voltar aos meus sonhos agora que eu de ti já me tinha livrado! Chegaste de noite, como sempre foi o teu hábito, montada no Plácido, armada em Amazonas de tempos perdidos! Que coisa!
E mais uma vez eu cedo, eu renego ao que me foi dado, ao que de novo de me foi dado, para me acolher no teu leito!
Renego, abnego e refuto tudo aquilo que eu aprendi! Tudo aquilo que foi a minha cartilha tudo aquilo que me tornava eu, somente por ti!
A fogueira a Galileu, que não a teve, a Bruno e a Copérnico uma morte pior do que a trágica que tiveram, renego a terra que nada em volta do sol, adoro o sol que voltei em redor da terra, abnego as leis da matéria que não vejo, daquilo que não sinto! De todo aquilo que eu era mestre e sábio e que no fundo se resume a nada!
As estrelas no céu são um véu de luz, o teu véu de luz salpicado por mil e um pirilampos.
Adoro a terra que piso, a água que bebo, o vento que passa sobre mim, o fogo que me queima a alma! Esses sim são teus!
Trazes o facho de Prometeu, e com o roubo desse Titã incendeias-te com o fogo dos deuses o meu âmago!
Porque vieste?! Porque tiveste que bater de novo na minha porta?!
Beijo-te, como se nada beijasse, aperto o que não existe, sinto o que não há, pois tu não tens existência, tu já não existe, tu nunca exigiste e eu…eu sinto-te aqui, lado a lado comigo e tu…tu maia uma vez aproveitas-te disso e envolves-me nos teus perfumes de jasmim, dás-me hidromel como se fosse água, e espetas-me como se eu fosse como tu, imortal!
Não sinto por ti nada, mas tu, por mim, insistes em sentir e sentes cada vez mais como se só vivesses graças a esse teu sentir mas eu definho, morro lentamente quando tu me chupas a vida, e eu vou-me ficando…preso… retido…mas acima de todo perdido…perdido na volúpia das tuas formas que me lança estes macaquinhos sem lógica, desconexos e que mortificam todos aqueles que os lêem…
Sim, porque todos nós temos macaquinhos no sótão!

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