Nunca te sentiste tu como eu me sinto,
Sentado na poltrona, velha, ratada, puída
Com laivos de manjerona, maconha de dias adidos.
Lamentando, pesaroso, a falta de vida
Do fermento, da essência, geração que não é espontânea.
Que se prostra na maledicência
Nunca te sentiste hoje como eu me sinto todos os dias.
Como se parisse o mundo, como se todo ele saísse
Pelo meu ventre rasgado, das minhas entranhas saísse.
Como te esqueces tu do que eu te disse?
Como podes fazer, tu, como todos?
Abnego! Renego! Maldigo!
O ar que respiro, o chão que piso!
Sou indigno!
Dói me o corpo como partido
Como escavacado estivesse
No peito a dor que não se sente
O peso que nos lança nas rodilhas da sorte…
Ai como bendigo os pássaros do monte
Os coelhos do campo, os ratos do esgoto
Esses sim, esses sim são dignos de tudo!
Eu…não sou digno de nada.
Nunca te sentiste como eu me senti,
Nunca viveste como eu vivo,
Nunca amaste como eu não amo.
Nunca choraste como eu sempre choro,
Nunca, nunca, nunca…
Como eu sei?
Olha para ti! Olha no espelho que é a tua alma!
Olha como é belo, vivo, sentido e merecido!
Olha como nunca esta marcada com o opróbrio
Vê o que os meus olhos não vem…
Vê o que esta escondido em ti e que eu não tenho…
Sente, pois eu não sinto.
Nunca poderás sentir como eu sinto
Não te falta nada, a mim falta todo
Falta-me o instrumento para sentir, e eu sinto..
Eu sinto pena, por não sentir.
Por não poder acolher o teu colo,
Sinto os rios, as flores na tua voz
Os campos, os montes na tua face
O mar, o céu nos teus olhos
As planícies, o sol no teu cabelo.
Eu sinto, sinto muito, mas não sinto…
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