segunda-feira, 16 de junho de 2008

Na beira do penhasco


Sentei-me a borda do penhasco.
Naquela pedra quem esta mais alta que as outras bem a beira do abismo.
O vento é forte e eu estou em pé, apoiado só num pé e o vento fustiga o meu copo.
Varejo como varas verdes na noite que é escura.
De lá de baixo o vento suga, de cá de cima o vento empurra e eu ali no limbo, no fiel pronto a tender para qualquer um dos lados…
Como é estranho, angustiante este equilíbrio, não durmo, não posso dormir!
Senti a única perna a ceder, não posso dormir, não posso adormecer!
Não quero cair! Recuso-me a tombar como tombam os que me rodeiam!
Não!
Não durmo, não como, não vivo!
Mas cedo, acabo por ceder…
Fecho os olhos, abro os braços a lanço-me! O vento corta cara, os olhos cerados abrem-se e vem o fundo aproximar-se…não temo!
Não temerei!
Sou como uma rochedo que se fragmenta, que sofre a erosão para se converter em solo, em terra fina e arável!
O fundo está próximo…e então sinto um calor, um estranho calor sobre as minhas costas, as roupas pegam fogo e abrem-se algo das minhas costas, algo fofo e macio, algo que reduz a velocidade que impede-me de cair de esmurrar-me num rochedo.
Aterro levemente. Olho para sul, como belo brilha o sul.
Abro as assas, brancas e alvas, deixo para trás a amalgama de sangue osso, e voo rumo ao longe, rumo ao sul, pois do sul vem o calor que me aquece o rosto…
Nao ligues ao que digo, peço-te, as vezes sonha-se acordado, as vezes os macaquinhos levam-me para longe com todas as dores e os espinhos do caminho…mas o caminho faz-se caminhando, até ao dia em que me recusar a andar e, ai sim, me deixar cair com todos os meus macaquinhos.
Sim, porque todos nós temos macaquinhos no sótão!

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