quarta-feira, 19 de março de 2008

Negrura


Minto, minto, minto! Minto se digo que estou vivo, minto se digo que estou aqui, minto se digo que ouço!
Eu estou morto, eu não estou aqui, e os meus sentidos estão cauterizados pelas chamas que me cercam!
Eu não estou, não posso estar! Estou cercado pró algo que não te sei explicar, por algo tão tenebroso que nem a minha negra existência poderá jamais relatar!
Estou ferido! Ferido de morte com as setas que são lançadas do meio do mata e que atingem vezes sem conta se eu alguma vez poder ver que mas lança!
As feridas infectam. Proliferam as doenças e a putrefacção. As fístulas já ano fecham são antes povoadas por insectos que usam a minha carne morta para fazer procriar a sua prole!
É assim que eu rastejo, que eu pejoro no meio do pó, da lama e do fel… a esperança foi-me roubada, como todo o ouro do meu coração…ficou um nada, um nada vazio que pulsa lentamente e eu me mantêm morto, sim morto porque viver não é isto que eu vivo! Eu não vivo assim! Eu morro assim!
Eu peno pela vida, pela vida ávida que nunca tive, pela vida sombra que os demónios me dão!
Antes a morte a um viver assim! Antes a morte as feridas, as dores e ao sofrer! Antes a negrura da noite do que o sol enublado pelos espectros demoníacos pelos mal dizeres e pela dor!
Estou farto de tanta dor, de tanto sofrer, de tanto sobreviver…estou farto de lutar!
Cada dia luto com ais força! Com ais garra …mas sem armas…sem ver a cara dos meus inimigos…sem saber a quem me devo dirigir…bramindo aos céus…
Estou cansado…tão cansado…
De tal maneira que todos os meus macaquinhos se deixam prender neste lodo e ficam retidos na minha dor, filtrados nas minhas angústias e só saem assim… macaquinhos ranhosos.
Sim, porque todos nós temos macaquinhos no sótão!

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