terça-feira, 18 de março de 2008

chuva que dilui o ser


Lá fora a chuva cai, copiosamente sobre tudo. Leve, subtil como as assas de uma pequena libélula.
A chuva que fustiga as janelas que faz salpicar as ondas do mar na minha cara e que me faz sentir cada vez mais partido, fragmentado no meio das minhas duvidas e angustiosas poucas certezas.
Quebro-me a cada toque, viro cacos a cada pensamento, a cada minuto, segundo que passa eu converto-me num resto de nada. Não sei quem sou para alem de cacos, não sei quem serei para alem de pó. Não sei quem me restaurará, quem terá a coragem de reunir todos os pequenos pedaços de nada que me formavam e que agora se espalharam pelo vento!
Eu sou um Osíris que clama pela sua Isis, que clama pela restauração do seu ser que para alem de nada ser, é ser suficiente para sofrer.
Tenha chagas abertas em todo o meu corpo, a minha alma está consumida pela gangrena, definho a cada pensamento, a cada novo pensamento que surge na minha cabeça.
Eu já fui empírico, mas quando me retiraram o empirismo só sobrou cacos! A cola que a experiência era, era a única eu me conseguia manter uno, unido, quelado num só!
Estou farto! Farto das armaguras, cansado de tudo! De tudo o que me rodeia e que me leva ao desespero, que me deixa mortal face aos seres que detêm a imortalidade!
Estou farto! Farto se sofrer dores que não são minha, preocupações que não são minhas, mas que me arruínam!
Não vivo, nem sobrevivo, rastejo penando pela vida…estou morto …mas ainda não sei…
Vou tirando macaquinhos…a última coisa que me resta…
Sim, porque todos nós temos macaquinhos no sótão!

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