domingo, 17 de fevereiro de 2008

A minha morte ( nao se asustem, é escrita)


Sei que pode ser um pouco mórbido, e desde já as minhas desculpas e a suplica do perdão, mas estar aqui fechado no alto de uma torre com o vento a fustigar todos os postigos e a chuva a bater em cada janela não consigo deixar de penar nisto, sim de pensar naquilo que temos de mais certo na vida, a morte. Não deixo de pensar na minha, sim na minha própria, por muito parvo que seja, gosto de imaginar como será, aliás imagino mortes, a parte criativa da coisa é que me inspira, creio eu que não será a própria morte que me cativa, mas sim o seu significado, os seus gesto brutais cheios de malograda delicadeza e de retumbante dureza.
Eu quero morrer, se tiver que ser, no meio de um campo cheio de cerejeiras, todas elas floridas, sim quero morrer bem debaixo delas como doce cair das suas delicadas pétalas tombadas pelas primeiras leves brisas de Primavera. Sim ali, sentado numa cadeira com a neve branco das cerejeiras a cair sobre mim, o ultimo sopro, a ultima visão será no branco, no branco das delicadas pétalas de flor de cerejeira.
Depois, quando horas passadas me encontrarem, já frio, tombado sobre mim mesmo e cobertos de pétalas, quero que em vistão a minha farda de gala.
A farda de veludo azul-escuro como o céu da noite, debruada com o veludo vermelho sangue. Quero levar essa minha farda, quero que os botões de ouro estejam a brilhar, polidos. Na minha lapela quero as medalhas e as condecorações, todas elas perfiladas e brilhantes. Quero que me calcem as botas de cano alto acima do joelho, com as quais em cavalgava pelas serranias e pelos campos, quero que estejam brilhantes, engraxadas.
As minhas maos postas sobre os quadris, pálidas, no meu dedo anelar direito quero o meu anel, o meu grande anel que não deixarei para a minha descendência, não esse ira comigo. Essa mesma mão segurará o meu sabre, o sabre da minha farda com lambris de ouro e aquele grande rubi no punho. Sobre o meu peito quero a faixa das três ordens, quero morrer como foi.
O meu caixa será de sobro, escuro, preto, negro. No velório quero que me cerquem de cravos, não importa a cor, mas sim o cheiro, o seu santo cheiro.
Quero que venham todo, não, não quero que me venham carpir, chorar baba e ranho sobre mim, não, NUNCA, quero que venham todos como se viessem para uma festa. As senhoras elegantemente vestidas os senhores de fato e casaca, todos com as suas melhores jóias, colares brincos, anéis, diademas, tiaras, tudo! Quero ali todo isso como se fosse na festa da minha aclamação.
O meu féretro será levado pela carruagem, puxado por uma quadriga de cavalos negros. O caixao irá amortalhado a negro debruado com as insígnias da minha casa, das minhas gentes. Sobre ele seguirá só uma flor, um simples flor, poderá ser um cravo, somente um cravo.
Ao meu lado seguira o meu cavalo, o meu tão amado cavalo, aparelhado como se eu estivesse pronto para o montar, mas sem montada alguma.
Serei escoltado pela minha guarda apeada e de lanças na mão. Atrás quero um valido, ou quantos necessários, para levar todas as honrarias que tive direito, que não mas dêem na morte, todas essas que sejam deitadas ao lixo, NUNCA! Na morte não quererei as honras que não me foram dadas em vida NUNCA!!!
todos aqules que me seguiram deveram faze-lo de caras alegres, e ai de quem vier com aquels frases feitas de " ai que ele era tão bom homem...", NAO isso NAo, nao quero choros nem lamentaçoes, quero sentimentos de alegria, de vida, pois é de vida que se tarta quando se fala em morte!
Quero ser acompanhado pelas bandas, sim quero barulho, tanto faz que sejam marchas fúnebres ou passo doble da praça de touros, não me interessa quero é musica, festa!
Os canhões ressoarão em mil salvas de pólvora seca, os fuzis lançaram estampidos a minha passagem, o cheiro da pólvora inundará todo o espaço, mas é assim que terá que ser.
O caixao será deposto no sarcófago, sim um sarcófago, não quero ser queimado, não desejo virar cinza ou adubo, poderei ser enterrado na terra para os bichos me comerem, mas no entanto serei colocado numa arca tumular, nem que seja rasa como chão., nem que seja perdida num mar de campas, mas gostva que fosse grande, virada para sul, par ver sempre o sul a nascer, o sol ao meio dia e o sol ponte.
A sua tampar será a minha jacente. Não me quero deitado como muitos outros têm. Não quero que na minha jacente eu esteja sentado, sim sentado no meu trono de pedra, de olhos abertos para a morte mas em especial para a vida que se passa na minha frente. quero que aminha cra de marmore branco seja iluminada pelos raios de sol, pelo luar da lua e pela esperança na vida.
Aos meus pés quero as coroas, todas elas, as coroas de todos os meus reinos, de todo o que foi meu, de todo o que fui eu. Terei na morte aquilo que eu na vida mal tive.
Assim ficarei para sempre, por séculos vindouros, ali depositado na arca, vivendo, sim é verdade vivendo, a eternidade será ali, a eternidade não se vive na morte mas sim na vida que se tem na morte. Enquanto alguém olhar para mim, nem que seja para a minha jacente, mas que olhem, que se lembrem do meu nome, que digam o meu nome, assim…sim, assim viverei!
Sim continuarei vivo na memória, no coração de todos, onde continuarei a tirar macaquinhos do sótão…
Sim, porque todos nos temos macaquinhos no sótão!

2 comentários:

Menina Ochoa disse...

O título assustou-me, a imagem ainda mais... acho que volto mais tarde para ler isto...
contudo fizeste-me lembrar uma cena engraçada quando um amigo meu, disse muito concentrado que deviamos fazer um jantar de mortos!!!

Faroleiro disse...

bem, nao é caso para tal, e ja acrescentei no titulo, é só escrita!!! lol