terça-feira, 17 de setembro de 2013

Fio de luz

Um dia ele quis isolar-se, fechar-se de tudo o mundo, fechar as portas, fechar as portadas, puxar os reposteiros pesados das janelas. Sepultar-se da sua fuga. Rasgou todas as fotos e todos os livros, todas as folhas e velhos registos, empilho-os numa grande pilha onde derramou litros de boa gasolina e ali ficou no meio da escuridão, pegando na pequena caixa.
Com um ruído a escuridão quebrou-se, acendeu um pequeno fosforo. Como pequena e frágil era aquela chama presa a um toco da madeira, e era bonita, e como era bonita no seu tom violáceo …e ele parecia encantado com o fosforo, mas mesmo assim deixou-o cair. Lentamente deixou-o escapar por entre os seus dedos, libertou-o, e ele caiu sobre a pilha de coisas humedecidas em combustível, e explosivamente tudo foi tomado pela cor, pelas chamas, pelo cor que inundava a escuridão do local.
E ele riu-se, e ele dançou em redor das altas labaredas e cantava as velhas canções infantis, e saltava e fazia altos pinos, e fê-lo até as forças acabarem, e fê-lo até as chamas se extinguirem sobre si mesmo num monte de cinzas e por fim caiu.
Tombou com todo o seu corpo, com toda a força sobre o tabuado, e facilmente as lágrimas começaram a jorrar-lhe da cara. Era uma torrente, uma levada constante de água salobra que ia de encontro a pilhas de brasas ainda vivas e que se apagavam com estampidos, e os pequenos pontos de luz rubra que ainda resistiam eram apagadas com toda aquela água e por fim ele ficou na total escuridão quando as cinzas formaram uma amálgama com as lágrimas e ele deixou-se ficar.
Deixou-se ficar a espera que viessem buscar, nas trevas, soluçando, de olhos secos, já não tinha nada que fazer senão esperar…e passaram horas, e passavam dias e sobre ele passava todo o tempo como se não passasse. Esperava, desejava somente que fosse rápida, que fosse rápida a passar sobre ele.
Não soube se adormeceu, se foi o seu corpo que entrou em qualquer letargia, se talvez aquilo fosse como um coma, uma catalepsia que o seu cérebro lhe impunha, uma quase morte que, não o sendo, tornava tudo ainda mais brutal…mas mesmo assim, mas naquele estado a sua iris notou, sentiu aquela pequena diferença de tonalidade na escuridão.
O céu cérebro percebeu que algo se movia na frente do seu olho, e era só um ponto, uma mínima coisa de luz que insistia em passar em frente do seu olhar.
Não ligou, não podia ligar um corpo inanimado não liga a pequenos pontos de luz que brincam na sua frente como um desafio, como uma chamada para uma brincadeira e não se chama um corpo prostrado para nenhuma brincadeira.
Mas a alma, ou lá o que quer que pouco mais restasse daquele corpo de onde o próprio ar já se escapava, sempre havia sido algo curioso e somente a curiosidade era capaz de fazer ceder aquele corpo inanimado, só a curiosidade conseguia quebrar o rigor-mortis e como se nada fosse fez o pequeno e gélido dedo médio mexer-se um pouco, afinal era em seu redor que o ponto de luz teimava em brincar, em redor daquele insignificante dedo.
Tentou tocar-lhe, tentava tocar-lhe, mas o pequeno reflexo fugia a cada investida de toque e a cada tentativa nova frustração, nova inquietação. Quando deu por si já não era o dedo, mas toda a mão que tentava apanhar o fugidio ponto de luz e o corpo ganhava uma nova força, ganhava à inação como se nada fosse, como se nunca tivesse existido resistência e já estava sentado e o sangue, que afinal ainda existia, voltava ao seu fluxo quente, e ele já tentava apanhar com as duas mãos o ponto, os pontos que agora se havia multiplicado e eram uma fileira, uma organizada fileira de pontos de luz, um fio cintilante de luz, tocado e reflectido pelas ínfimas partículas de pó que se levantava das cinzas do seu corpo.
E os olhos seguiam a linha de luz como encantada, como extasiada, reassumindo totalmente e perfeitamente cada uma das funções do seu corpo até então estropiado, e levantou-se, as pernas fraquejaram, a cabeça pesava e parecia tonta, mas cambaleou ao longo do rasto que se formava no ar e caminhava descalço pelos destroços, pisava as cinzas sobre as quais passava atrás da linha que o possuía, que o levava até a parede enegrecida pelo fumo da grande fogueira.
Mas eras mesmo da parede que se escapava o fio de luz. Era do reposteiro de veludo tão bem fechado que o fio de luz se escapava.
A medo não lhe quis tocar. Ficou a admira-lo com os sentidos, sentia o cheiro a queimado, sentia por fim na sua mão, olhou pelo pequeno e insignificante buraco e finalmente sorriu…
Deu dois passos atras e soltou uma gargalhada que vibrou pelo espaço, sentou-se no chão, deixou que a linha de luz que aumentara de intensidade o atingisse bem na cara, no meio dos olhos fechados, e aquela pequena luz, aquela luz que entrava de fora, finalmente fez-se lógica, para ele significava tudo e sorrindo percebia.
E percebeu que a cada novo sorrir, sorrir verdadeiro e franco, vindo de dentro, do seu ser magoado, que cada vez que a linha de luz o fazia gargalhar dentro das ruínas o fio de luz aumentava, ficava maior, e o vazia sentir ainda mais quente, o que aumentava inesperadamente aquela sensação de alegria, de calor, de conforto que entrava dentro do seu peito e a cada sorrir o buraco aumentava, e o efeito era exponencial e a vida reentrava nele como se fosse ar, com a mesma facilidade, com a mesma felicidade.
E ria-se, ria-se tanto que o reposteiro não aguentou, o rasgão foi abrindo e pedaços enormes caiam no meio da poeira do chão, inundando tudo de luz, já não era uma linha de luz, mas tudo era luz e ele ficou sentado a sorrir, porque daquela nova janela, daquela que ele próprio abrira, entrava a jorros a luz e ele ficou ali, ali sentado, a olhar, a mirar a luz, a olhar para a esperança que aquela luz era.

E ficou feliz, por estar certo naquela esperança que o iluminava      

sábado, 17 de agosto de 2013

Maquina de escrever

No fim da primavera a casa era caiada, arrancava-se o salgadiço do inverno que ficava agarrado as paredes e voltava aos alvores da sua brancura.
No início do verão as portadas eram abertas, o chão afagado, o pó expulso, os estofos batidos, as cadeiras de verga envernizadas e postas no alpendre, os cortinados de linho fino e branco agitavam-se quando naquele fim de tarde, a casa esperava por ele.
Pela estrada que vinha ao longo da costa, de norte para sul, percorrendo as falésias e serpenteando pelo meio dos pinhais, levantava-se um nuvem de pó, o som que o mar abafava de um carro.
Os pinheirais agitavam-se com a brisa, soltavam o cheiro a resina e a terra seca, os arbustos rasteiros perfilavam-se ao longo da estrada, de alecrim e tomilho que apimentavam e refrescavam o ar.
A casa via-se ao longe, e o seu olhar estava preso a ela fazia algumas léguas a sua magia, a velha magia que sempre fizera, de magnetizar, de prender nos seus idílios.
Parou o carro, deixou-se ser tomado pela nostalgia do passado, fechou os olhos na esperança de ouvir algo mais do que o silêncio, mas era somente isso, o silêncio que o rodeava ali no cimo do promontório onde a velha casa cuidada e pintada e arejada e pronta a ser abrigo.
Tirou a mala de dentro do carro, coisa pouca que o verão pouco pede, tirou a mala rígida onde trazia sempre, afinal, aquela que era a sua velha companhia, a máquina de escrever. Os pés faziam as tábuas gemer, talvez uma qualquer forma de a casa felicitar aquele regresso.
Pousou a mala da roupa no chão, a máquina de escrever sobre a velha secretaria que se debruçava pela janela grande sobre o mar. Sobre ela empilhavam-se velhos papeis, memórias antigas, dactilografadas por aquela mesma máquina num espaço de tempo tão longínquo que as pilhas amareleciam ao sabor dos velhos tempos, talvez guardando dentro delas os sorrisos, os sorrisos, os cheiros do tempo em que haviam sido brancas e novas.
Pegou nelas, desfolho-as, não percebeu o que estavam escritas nelas, nada daquilo tinha sentido. Levo-as consigo, e com algo fresco que tirou do frigorífico, ficou sentado na velha cadeira de baloiço, olhando o mar, deixando a madeixa rebelde de cabelo que lhe dançava sobre a testa ao sabor do vento.
Deixou-se ficar olhando o sol que tombava, as cores de fogo que se espalhavam pelas falésias, pelas pedras altas que se erguiam do mar.
Sobre as pernas estava a pilha de folhas, presas sobre a mão, folhas que o vento queria para si a medida que o sol descia e sobre a terra a calma e o rubro tomava contava de tudo. Levantou-se quando por fim Apolo chegava as águas, por fim tirou a mão da resma de folhas, por fim o vento reclamou aquilo que era seu por direito e, com uma rajada quente vinda de sul, desfez a pilha de folhas, levou pelo ar aqueles papéis amarelos que tomados da cor do por do sol semelhavam-se a penas, a penas de um pássaro de fogo que se erguia dos profundezas dele e se tornava finalmente livre.
Espalhavam-se pelo ar, lançavam-se ao mar, ficavam presas em algumas urzes secas e eram fustigadas pelo vento. Quando por fim o céu se cobriu de anil, de púrpura e das cores do crepúsculo, só nessa altura ele entrou em casa, liberto de todo aquele peso, feliz por se ter conseguido agarrar a terra, feliz por não se ter lançado ele mesmo ao vento.
Sentou-se a secretaria, ligou a luz do candeeiro de ferro, destapou a máquina de escrever, tirou folhas novas, brancas e prontas a novas coisas, desejosas de tinta como ele estava desejoso afinal de vida.
Fechou os olhos, cerrou os dedos, abriu as mãos sobre o teclado e começou a encher a casa daqueles ruídos, do bater de teclas, do alegre matraquear das teclas que tornava inaudível o som do mar, que tornava surdos o som das folhas de papel soltas e livres que batiam ainda contra as janelas e as paredes brancas da casa que se cobria agora pelo estrelado céu.

E ele ali ficou, a escrever, a escrever cada dia do seu futuro 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Infinito

O campo salpicava-se de arbustos de lavanda. Por todo o lado, enquanto a tarde adormecia, se sentia o seu doce odor. Perdido no meio do campo a pérgula montada como uma tenda parecia o melhor refugio para aquela alma que deambulando procurava conforto, um balsamo para lhe apaziguar as feridas do caminho e os panos que se agitavam chamavam o caminhante.
O silêncio, o estranho silêncio que povoava o campo, o vento que não se conseguia perceber de onde vinha, vindo de todos os lados, o cheiro era a única nota, o cheiro e as cores que se tornavam mais fortes.
Entrou no limiar dos panos, da tenda, permitindo finalmente olha para dentro daquele espaço. O chão estava coberto com almofadões que rodeavam uma pequena mesa onde se dispunha um copo, uma jarra com água fresca.
Um novo cheiro juntou-se então, o cheiro a maça e a canela que ficava suspenso no ar numa pequena nuvem. Afinal não estava só, antes dele já alguém ocupava o seu refugio.
Uma mulher que, deitada, fumava de um grande cachimbo de água. Não se surpreenderam, sabiam que se iriam encontrar. Ele descalçou-se, libertou-se do pó do caminho, e tomou o seu lugar, de frente, olhando para aquela mulher que o olhava.
-vim de longe em busca de refugio…
- Aqui tem o refúgio que procura, toma este que sempre foi o teu lugar
Sentou-se, sabia que tinha terminado a sua jornada, sabia que a solidão do caminho o havia levado até ali. Chegara ao seu abrigo.
- Sabes quem eu sou? - perguntou aquela mulher de olhar cuidado e pacifico
- Sim seu…sou eu, o pedaço de mim que andava perdido, aquele pedaço que um dia deixei partir sem dar conta, a minha chave de abobada, aquele simples pedaço de tijolo que mantinha o meu mundo de pé. Esta na minha frente aquilo que devia estar ainda dentro de mim, que nunca deveria no fundo ter quebrado, fragmentado…você é um pedaço de mim, aquele pedaço de mim que eu andava a procura e que finalmente pode encontrar, no lugar onde eu sabia que estaria…mas tinha que fazer o meu caminho, tinha que sentir o pó na minha cara, os pés a doerem, a dor, o desespero a cada passo,  perder-me mil vezes, para por fim perceber que estava na altura de a reencontrar…sabia que estava aqui, sempre soube. Mas somente agora te posso dizer que te encontrei, por somente agora posso dizer que te tinha perdido, que sentia a tua falta, pois somente aqui, olhando no teu olhar posso dizer que esta tenda, neste campo, neste tempo perdido…somente aqui eu te podia encontrar, somente aqui podia ser o meu refugio…
Ela sorriu, lançou uma baforada de fumo para o ar no meio de um sorriso, olhou para ele…convidou-o a beber
- bebe, bebe dessa água que vai matar essa sede que o caminho te deu, toma a água que vai aliviar a sede que te mata por dentro…bem vindo ao teu refugio, fica o espaço é teu…

Levantou-se, o vestido branco foi tomado pelo vento, o olhar fitou o horizonte, estava na altura dela partir, olhou a derradeira vez para trás, olhou para a marca que ele trazia no ante braço, uniu permanentemente as pontas laças, construiu um infinito naquele sítio onde esse infinito havia sido quebrado. Ele soube que a partir de então jamais lhe iria doer o infinito quebrado que o caminho lhe havia desenhado a tinta na pele e a dor num qualquer sitio que havia ficado pelo caminho.
Ela não disse mais nada, olhou em frente, e com volúpia afastou-se, partiu para oriente, pelo meio do caminho rodeado pelos arbustos de lavanda, já não era precisa, a sua função estava comprida.

Ele ficou no seu refúgio, só, solitário…mas com a certeza de finalmente estar no sítio certo, no seu refúgio, no seu abrigo, de estar finalmente num sitio onde pudesse escrever a tinta forte o seu próprio destino, o seu futuro, os seus desejos…onde por fim pudesse escrever o seu próprio infinito!

terça-feira, 23 de julho de 2013

Voar

E naquele dia ele somente sentia aquilo que não podia sentir, o éter que o rodeava. E aquele vazio que o sufocava, que o oprimia a cada dia, não o deixava voar, não o deixava abrir as assas, não o permitia ser livre, e como ele precisava de ser livre…mas por mais que tentasse as essas estavam pressas, presas dentro dele mesmo…Ai e como ele queria ser livre, como ele desejava ter tudo aquilo que afinal não tinha, como ele desejava ser tudo aquilo que afinal já era sem perceber que era, ai como ele desejava erguer, esticar, abrir bem as assas, as suas assas e poder dar um salto, um salto no cimo do penhasco , sem medo do fundo, sem receio de cair, porque afinal ele voava…aí como eu gostava de finalmente voar… 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

domingo, 16 de junho de 2013

cedro

Era aquele o sítio. O cedro, o velho cedro, retorcia-se com o vento que vinha das escarpas, do vento que se erguia constante do mar, vergastando-o, açoitando-o, vergando-o contra o chão e mesmo assim ali estava ele, robusto, vivendo, agachado, ultrajado, mas sobrevivendo.
Foi a esse cedro que ele atou a fita que trazia fazia tanto tempo dentro do seu bolso. Era aquele o local, era aquele o momento. Na fita tinha escrito tudo aquilo que estava por dizer, todos os segredos, todos os desejos, todos os sonhos…sim, em especial os sonhos que se alinhavam em cada ponto da pequena fita que ficou a agitar-se ao vento sul.
Esperou que fosse o vento a leva-la, um dia, para longe e assim esperou que ficasse mais leve, quis acreditar que assim…deixou no cedro, de fronte para o mar, naquele ponto final, onde a terra acaba e o mar…e o vasto mar começa…   

terça-feira, 11 de junho de 2013

Segredo

Sabes que eu já pensei que gostei de ti?! E ainda hoje não sei  bem, passados tantos dias, semanas e tantos momentos, ainda não percebi se gostei ou se gosto de ti!
Sei que encontro paz junto de ti, que me consegues acalmar, que não deixo de sorrir e de sentir melhor perto de ti! Sei que gosto de sentir o calor dos teus braços que me abraçam, do jeito como que me apertas contra ti…
Sei o que me dói, como fico, quando te vejo partir, o vazio que fica ao meu lado quando te despedes, nem que seja num breve até já, dás-me saudades, aperta-me o peito, a angustia sobe à garganta e me sinto cheio daquele ardor, do desejo de te ter de novo perto de mim, para sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, olhar no teu olhar, afagar docemente a tua mão por entre os meus dedos, a festa que te fiz no rosto duas ou três vezes enquanto dormias…
E continuou sem saber o que é isto, continuo sem saber se lhe devo de apelidar de amor, porque o seu somatório não é somente uma operação aritmética simples, e tu, como eu, colocamos todas as nossas variáveis, internas ou externas, e são essas que medeiam todas as nossas relações…

Talvez nunca me percebas…assim como eu nunca te irei perceber…mas sei que estaremos sentados naquele banco, frente ao mar, enquanto o sol se poe, e enquanto de mim se apodera o terror, que ma faz tremer as pernas fraquejarem e tu…tu finalmente pegaras na minha mão com a tua bruta delicadeza, irás apertar os meus dedos por entre os teus, vais olhar para mim, olhos nos olhos como até então nunca tinhas olhado e irás ver esse terror como um reflexo desse sol rubro no meu olhar húmido. Sorriras para mim e por fim dirás: Não tens que ter medo, não tremas, não temas, liberta-te desse terror…porque eu estou, como sempre estive aqui, mesmo quando não sentiste, mesmo quando tu procuravas o meu mundo e encontravas as sombras frias, quando procuravas o meu consolo nos teus sonhos e não vendo que eu estava aqui, que nunca estive longe e agora tens em ti a minha paz…    

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A pergunta que faltava ser feita....

....e depois de ouvir tudo o que lhe tinha dito, olhou para mim, bateu com a mão sobre o balcão e disse:
- Tu amas-lo!
e a voz não saiu, pois aquilo era uma afirmação...e o  silencio ficou, e a mente contraiu-se violentamente, e teve que fugir para nao ser atropelado pelo que afinal parecia ser a realidade...
No fim aquelas palavras ficaram a bater durante toda a noite...
- TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!

E já não sabia o que era verdade, se aquilo era verdade ou somente uma ilusão, mas o peito apertou-se, o coração sentiu-se esmagado e pequeno, e desenhou com um pedaço de giz um quadrado e ali dentro, sozinho, estava protegido....mas não esquecia aquelas palavras....TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Saudade

Ele sentava-se a sua frente, ali fazia horas e mesmo assim as palavras que lhe disse não era estranhas:

«tenho saudades tuas»- dito num tom  contido, olhando o tampo da mesa.

«saudades de mim? Mas eu estou aqui! Estamos aqui a horas, estou contigo tudo o tempo que conseguimos estar …e tu dizes que tens saudades?!»

Levantando o olhar, fitando-o nos olhos, com raiva, libertando aquilo que tinha dentro do coração e tudo aquilo que ficava algures preso dentro de si.


«Mesmo tu estando aqui à minhas frente…eu não poderia ter mais saudades de ti!» e as lágrimas, finalmente, escorria …

sábado, 1 de junho de 2013

Espistola

Escrevo-te a ti, meu futuro, aqui algures do teu passado deixo-te esta carta. É cheio de esperança que te escrevo, porque sei que estas bem, que afinal tudo correu bem. Sei que encontraste a felicidade, a tua felicidade, aquela que eu não tive a capacidade de encontrar mas que tu conseguiste.

Olho em redor e vejo as ruínas que te deixei, as construções mal-amanhadas, tortas, as ruínas e as fundações mal feitas, tudo aquilo que te deixei no meio deste terreno e que tu, pegando no que valia a pena, derrubando as paredes tortas, construindo, reforçando, projectando de modo eficaz conseguiste fazer uma das mais belas construções que alguma vez alguém poderia idealizar. Quem havia de dizer que partiu tudo daqui!

E como verdes e frondosas estão as veredas pelo meio dos jardins, onde havia capim e ervas daninhas, até dá gosto ver como dão frutos as macieiras, como as cerejeiras se vergam carregadas de pequenos e carnudos bagos de vida doce!
Conta-me, já gostas do por do sol, não gostas? Por certo que sim! Finalmente alguém te mostrou a beleza daquele momento, e diz-me: mostraste como belo é aquele momento em que o sol já se pôs e o céu esta purpura, anil, roxo e a estrela da tarde começa a brilhar tímida mas convicta sobre ti?

Manténs os velhos hábitos? Ainda vagueias a horas mortas pelas ruas vazias? Não…não creio que o faças sozinho, continuas a faze-lo, mas já não o fazes sozinho como outrora fizemos e as ruas já não são tao despidas, e as ruas assim já não são tao frias! Gosto de o saber, alivia-me e consigo esboçar um largo e franco sorriso por ti!

Posso ver que afinal as coisas que fiz, mesmo as mais erradas, mesmo as piores, mesmo aquelas que pensavam serem potenciadoras de destruição foram somente ensinamentos, experiencia de crescer…Sabia que iria valer a pena, afinal eu estou aqui hoje e tu estas amanhã, afinal eu sou o teu passado e tu o meu futuro!
Espero um dia receber esta mesma carta, amanhã, do nosso futuro, afinal é esse o destinatário!
O teu Pretérito….


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fica aqui comigo...ficas?!

O vento...esse vinha de sul, quente, vergando as douradas hastes floridas, secando-me o rosto, ameno, forte, quente. As colinas dançavam ao seu som, as flores amarelas douradas bruxuleavam, e o cheiro a verão contrastava com os tons sépia do céu...não havia sol, nem chuva, somente o vento que me fustigava o rosto. Não era eu que me mexia era as colinas que se arrastavam sobre os meus pés, não era eu que me aproximava daquela solitária árvore, aquele carvalho de copa arredondada que se deixava iluminar pelos reflexos plácidos das flores amarelas que o cercavam. O chão parou quando a orla da sombra da árvore ficou a um pequeno passo de mim, o vento queria que eu me movesse aquele pequeno passo. E, levando por mim, entrei na sombra luminosa... As folhas dobravam-se com o vento, fazendo um ruido de cristal, multiplicado, aumentado, ensurdecedor...por entre as folhas entrava a luz, e eu viu, de costas para mim, mergulhado no meio daqueles pesados livros, cercado pela muralha de calhamaços...tao pequeno e frágil... Não sabia se me devia aproximar, mas o vento sussurrou mais forte que sim, as paginas que ele virava fazia um ruido, lançavam um pedido para que eu me aproximasse…e fui aproximando-me, sem fazer barulho, olhando para aquela cabeça que se deixava cair sobre o interior de um qualquer atlas, a cabecita de cabelo cor de palha velha era acariciada pelo vento.
Somente quando me aproximei a uns 2 pequenos passos dos primeiros livros caídos e empilhados percebi que era uma criança, um miúdo, com pouco mais de 8 anos, 9 mirrados talvez, que frenético fazia correr o olhar pelas linhas serradas de palavras.
Hesitei, não queria estar ali, sabia que não devia estar ali, o vento percebeu, e uma doce rajada vinha de este fez alguns livros abrirem, e fez despertar o rapaz daquele mantra em que se mantinha. Levantou a cabeça, devagar, sentindo o cheiro que parecia diferente, sentindo talvez o meu cheiro, tentando perceber o que estava ali que não era dali, deixando ser outros sentidos, em vez da visão, a dizerem-lhe porque o vento do seu mundo lhe tinha dado aquele sinal. Talvez por isso não tenha sido surpresa quando se virou para trás, por entre as duas maiores torres bíblicas, e me viu, sorriu…esbugalhou os olhos, abriu ainda mais aquele sorriso que vazia umas tímidas covinhas e me falou, como se me conhecesse, como se fosse amigo de longa data, como se eu fosse único, como se fosse o seu único amigos, a única pessoa que existia no seu mundo, naquelas colinas, sobre aquela frondosa arvore.
E foi daquela mesma forma natural que eu, olhando para mim, me perguntei a mim mesmo, de olhos brilhantes e ansiosos por me cativar:
- Queres ler comigo?! Diz que sim…por favor, és a única pessoa que passou por aqui desde sempre,…
-Sim, eu sei…- condescendi com a cabeça conhecendo a sua minha própria história, vendo aqueles meus olhos que já não via à longos anos.
- Então senta-te e fica aqui comigo…por favor…fica contigo…

sábado, 25 de maio de 2013

Porque já doi aqueles que partem...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Duas estorias a uma voz...


Havia algo naquele abraço, diferente de todos os abraços, mais forte que todos os abraços que havíamos trocado.
Havia algo de estranho no aceno. No adeus que te acenei ao longe, diferente de todos os adeus que te dei.

Senti o teu corpo tão perto do meu, o calor do teu peito, o coração que acelerado batia dentro dele, querendo saltar para fora!
A distancia mal dava para ver o teu olhar, para te sentir, para notar que eras mesmo tu e não um qualquer retrato atrás de um vidro.

A minha mão apertou a tua cabeça contra o meu peito, desceu para a nuca que apertei, na esperança que sentisse todo aquilo que no meu peito estava desejoso por sair…
A minha mão caiu inanimada, mesmo com o teu sorriso, ela tombou ao longo do meu corpo, um adeus que ficava assim, escondendo tanta coisa que havia para dizer…

Fiquei a ver-te partir, a fechares a porta, a não olhares para trás, enquanto eu esperava que olhasses, enquanto o meu sorriso se ia esmorecendo e tu, afastando-te cada vez mais, seguias em frente sem olhar para quem deixavas ali, sentindo o calor do teu corpo.
Virei costas, partia, era eu que partia, levava o teu sorriso, as memórias do afecto, de tudo aquilo que eu significava para ti, afastando-me cada vez mais não pode resistir e olhei para trás, olhei para ti enquanto te deixava, fiz-te sorrir e o teu olhar mostrou que não querias que eu fosse, pedia para que eu ficasse

Mas tu partiste
Mas eu parti

E somente ficou a certeza de que tudo podia ser tão diferente…
E somente ficou a certeza de que tudo podia ser tão diferente…

terça-feira, 21 de maio de 2013

Dialogo


-Tu és o típico Omega

 - ómega?

- Existe o alfa o beta e o ómega, como nas matilhas de lobos:
 o ómega e aquele que faz tudo pelos outros que mantem a matilha unida que se sacrifica que cria o bem estar mas nao e o líder nao e quem comanda mas indirectamente é ele que mantem a união que da o amor … e que no fim e o que esta sempre sozinho

-.......

Prenda

"porque és um Anjo da Guarda para tanta gente...mas também a ti te faz falta um Anjo da Guarda que te guarde e te proteja..."

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Vento

Hoje o vento soprou forte de norte. Frio e tao forte que me fez estremecer a cabeça, trucidou-me sobre a falésia, senti as pernas cederem, o corpo a resvalar sobre o seu próprio peso…e por ali ficou, abandonado como sempre havia ficado, uma coisa despojada de vida, repleta se sonhos e de esperança que se iam sumindo como se fosse um fluido que se desalojava do corpo. Abriu-se o pequeno relicário que tinha pendurado ao fio no pescoço. E o vento levou as cinzas, as pequenas cinzas que estavam ali guardadas, memorias que já se resumiam a pó, sorrisos que foram pulverizados, esperanças….oh, tantas esperanças…
Quando me consegui levantar o vento continuava forte, impassível de tudo, a cada rajada ameaçava-me lançar mais uma vez por terra. Vergado pelo peso, sucumbido pelo vazio, deambulei perdido pelas ruas da velha cidade, sorrindo, pediam um abraço, aos vultos que se cruzavam comigo, que me viravam as costas, que se afastavam…
Quando acordei ao fim daquele dia pensei que pelo menos as coisas tivessem sido realidade, mas quando, por instinto, levei a mão ao peito, senti o frio metal que me magoava, afinal não se pode apagar as memorias, não se podem apagar as esperanças que deste vez fossem diferentes as coisas que à tantos longos anos veem sendo tao iguais…e amanha sorrirei, como se nada fosse, mesmo que o vento não sopre, amanhã serei mais um vulto no meio de todos os outros, mas sorrirei, terei o maior dos meus sorrisos…porque afinal ninguém merece ver uma lágrima, uma das mais pequenas lagrimas minhas… 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Considerações...


A medida que vamos crescendo vamos sendo educados, ou vão tentando nos educar no sentido do que é bom, do que é certo, do que é correcto…num resumo, vão nos tentando meter dentro da caixa, meter dentro da multidão, sermos mais um, somente mais um. Na realidade trata-se de uma arma, estão a dar-nos uma arma para nos defendermos, alias, antes de nos defendermos, é um escudo para que não nos ataquem, para que cada um de nos seja mais um invisível no meio da massa amorfa e compacta e difusa que se move segundo qualquer horário, qualquer chegada de comboio, partida de metro, entrada no trabalho fila de compras, fila de carros, sempre ordenados, sempre concretos, sempre correctos!!! Sempre como vai a maré também tu deves de ir…é mais fácil, é sempre muito mais simples…
O CARAGO! Não acredites nisso, nunca acredites nisso!!! Rema contra a maré, pensa fora da box! Reage contra a massa amorfa, contra os mil-se-nome com quem te cruzas, se um com nome, afirma o teu nome acima da multidão. Não te limites nem deixes que te limitem, que te castrem que destruam a tua individualidade…afinal tu és tu…der por onde der…  

quarta-feira, 8 de maio de 2013


terça-feira, 7 de maio de 2013

Estrada


Irás partir. Voltar costas, como tantos e tantas outras vezes.
Não vez como longo é o caminho? Como longe a estrada vai? Vês que lá ao fundo a linha do horizonte se junta com o pó da estrada?  Olha como longa é a estrada…tens a certeza que a queres fazer sozinho?
Sim, o caminho é meu, eu irei faze-lo sozinho!
Os caminhos nunca são para serem feitos sozinhos, os teus pés não terão somente que ter a poeira do chão, terão que ter também o conforto das águas correntes.
Seguirei sozinho…
Então não olhes para trás! Faz-te a estrada, faz-te ao teu caminho, mas não olhes para trás! Não fiques com remorsos, não fiques preso ao que deixas! Segue o teu caminho, vai em direcção ao poente, pela estrada longa e cheia de curvas, mas que é a tua estrada…faz-te ao teu caminho, mas peço-te…não olhes para trás! Nunca olhes para trás!
Sim, farei o meu caminho, mas porque não queres que olhe para trás?
Não quero que ao olhares para trás me veja a dois passos de ti…  
Como….?
Seguirás o teu caminho, irás seguir em frente, acumularas sobre ti a poeira do caminho, os teus pés irão sofrer as agruras da estrada, do teu rosto irão cair lagrimas, sulcando a tua cara suja, até que secarão, e nem uma lagrima conseguirás verter.  Quando olhares ao teu lado e vires nada, somente a solidão, nessa altura sei que olharás para trás, e será nesse momento que vais perceber que nunca estiveste sozinho na estrada, que a dois passos de ti estava eu, que se tombasses eu estaria ali para te segurar, para te aliviar as dores do caminho, para aplicar o balsamo sobre as feridas e chagas abertas…nessa altura irias perceberes que alguém estava atrás de ti, que nunca estiveste só no teu caminhos, e perceberias que os caminhos não se fazem sozinhos, mesmo que tenhas pensado que sim, mesmo que te tenha deixado iludir, que tenhas pensado que estiveste a fazer o teu caminho sozinho, que foste o único que comeu o pó da estrada…mas não, longe disso, nessa altura irás perceber que o pó que os teus pés levantavam era comido pela minha boca, por mim que andava somente a dois passos de ti. Percebes agora o que é o caminho? Percebes para onde queres ir? Percebes afinal…?
Sim…percebo…
E mesmo assim queres-te fazer ao caminho? Queres-te fazer a estrada? Queres seguir para longe?
Sim, quero…é o meu caminho…-e olhando para longe, para o poente acrescentou- mas quero que venhas comigo, ao meu lado, não dois passos atras, mas somente a distância de meio braço de mim. Não será jamais o meu caminho, será o nosso caminho,- segurando na minha mão, os olhos brilhando como nunca haviam brilhado – Partes comigo? Vamos juntos até ao poente? Vamos comer juntos o pó da estrada para que seja mais fácil o caminho? Vens comigo?
Sorrindo, apertei a mão, apertei os dedos entre os meus dedos: Sim, partiremos então que o sol vai alto e a estrada…como bela é a estrada.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Estação...


As estações são assim, caso sejam de comboios ou de autocarros, de aviões ou até de barcos. Tendem sempre a ser sítios isolados, solitários, onde uma pessoa se encontra talvez consigo mesmo, ou tao somente só consigo mesmo. Nunca se tem bem a noção se é dia ou noite, se é de manhã ou se já se alcançou a tarde.
Naquela noite, supondo que seria noite, a estação de comboio, supondo que seria uma estação de comboios, estava ainda mais solitária. Deserta era o termo correcto se não contarmos com pombos, ratos e baratas que se escapavam a medida que os meus passos sonoros quebravam o silêncio que cobria a cidade. As linhas paralelas, aquelas longas vigas de ferro, eram ainda mais escuras do que haviam sempre sido, prolongando-se para lá do oásis de luz, luz morta da florescência que somente se pode chamar de luz por se opor as trevas que se estendiam para montante e jusante do assento que eu tomava. Assento frio, como tudo era frio naquela noite, o vento vinha de norte e entrava de rompante levando pelo ar solitárias folhas de jornal velho que com desproposito me vinham bater nas pernas.
Ali estava, com frio, por fora e por dentro, com a certeza que as linhas eram rectas, embora ao meu olhar se assemelhassem a duas grandes curvas, curvavam nos aguçados gumes de um destino ausente, de um futuro que fugia do espaço que era aquela estação….Para trás ficava o escuro passado, para a frente as trevas do futuro. E o vento, esse fustigava cada vez mais, com cada vez mais violência aquela cara, que ficando cada vez mais fria sentia cada vez mais o gelo que lhe feria os olhos que se iam deixando mergulhar em pequenas gotas de água salobra.
estava ali, prostrado, frustrado, perdido…e como alto se ouvia o relógio a passar os segundos que eram longos minutos.
No fundo estações são assim, locais de espera, de longas ou curtas esperas, de esperas de esperança ou de somente espera…
E como negras eram aquelas linhas, paralelas, rectas sem se cruzarem…seguindo, distando a medida certa da bitola, somente a distância de uma bitola, de um metro e qualquer coisa…para sempre condenadas a não se cruzarem.
E o vento trazia o som, o distante som de um comboio que vinha, que surgia do lado do passado, iluminando as linhas que faiscavam pelo forte foco, que estremeciam, vibraram sobre as rodas que freavam a longa composição que irrompia como uma bolha de ar, ar quente.
Parou na minha frente, as portas abriram-se na minha frente, um corredor de luz, de luz viva, de calor…um tapete de luz.
Levantei o olhar, olhei…e não me mexi…
Com um ruido seco as portas fecharam-se, com um baque enorme e ensurdecedor, a luz ficará de novo fria, a máquina apitou, e começou a mexer-se, a andar, lentamente, a ganhar velocidade, levantando o ar, levando consigo o ar quente, relançado o frio sobre o banco onde me sentará. O ruido afastou-se, foi para frente, rumo ao futuro, tornou-se um ruido surdo, afastado, longínquo…
O vento frio voltava, mais forte, o silencio voltava, aconcheguei a velha camisola ao corpo, enrolei-me sobre mim mesmo, deitei-me no banco frio de ferro…e fiquei a espera…     

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Quercus


Lembras-te como pequena era aquela semente? A pequena bolota que trazias no bolso, mas que pegaste como se de um enorme tesouro se tratasse, como a fechaste entre as tuas mãos. Como a protegias naquele dia em que finalmente a aquela casa passou a ser a nossa casa.
Ainda tenho na memória o pequeno buraco que fizemos no chão, de caiu sobre a terra fértil e fofa aquela que era a nossa bolota, de como a tua mão direita certa e a minha esquerda desajeitada taparam aquele pedaço de nós.
E o primeiro rebento que surgiu, que brotou daquele pedaço de terra quando ainda se faziam as obras, e as primeiras folhas verdes brilhavam ao sol quando finalmente nos instalamos.
Quantos sorrisos fizemos para os cada vez mais numerosos rebentos de folhas que a cada ano se multiplicavam. Quantas vezes vieste ter comigo, nas tardes quentes de verão, enquanto eu lia um qualquer livro e o sol desaparecia, como sempre soubeste o que eu detestava o pôr-do-sol, por isso fazias questão de ali estar, ao meu lado como sempre estiveste nos piores momentos, embora só me consiga recordar dos melhores, do longo tempo em que debaixo da enorme copa do Quercus.
E depois de tantos anos, com o chão coberto de novas bolotas prontas a rebentar,  prontas a dar origem a novas arvores, a uma mata, a um bosque perpetuo, aqui estamos nós, os dois, sozinhos, de mão dada, dedos entrelaçados e ao fundo, sobre o mar, o sol lentamente se vais pondo, e tu apertas-me os dedos, como sempre fizeste, para que eu não tenha medo…porque tu me proteges, porque tu me hás de proteger, como a como a copa daquela árvore nos protege nesta tarde, daquele árvore posta em semente pela tua firme mão direita e a minha esquerda sem jeito…e olha, o sol mais uma vez lá se pôs… desaparece em anil sobre as ondas do mar…e tu mantes os teus dedos entrançados aos meus, sentados os dois, cabeça encostadas…e eu perdi o medo, por hoje perdi o medo, porque tu estas aqui, debaixo da nossa árvore, comigo, tu estarás aqui…    

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Uma pergunta....


O que fazias se eu morresse hoje?
Chorarias? Sentirias alguma pena? Deixarias o teu pedestal e virias ao encontro daquilo que eu já não seria? Diz-me, se tens coragem, o que irias fazer se eu morresse hoje? Pegavas no teu cigarro e lançavas baforadas para o ar? Deixavas-te ficar no sofá, olhando para a televisão como se nada fosse? Como se aquele corpo que ontem tinha vida, que ontem podia ser teu, não existisse, seria isso que farias? Diz-me, se me achas digno de saber, sentirias remorsos por tudo aquilo que não me disseste? Irias sofrer por tudo aquilo que ficou preso nas nossas gargantas, por tudo aquilo que ficaria por dizer se eu morresse hoje, sofrerias? Sentirias alguma perda se eu morresse hoje? A tua alma, o éter que te rodeia iria quebrar algum pedaço? Pedirias aconchego na cama, na almofada, no espaço vazio?
Diz-me, se tens coragem, o que fazias se eu morresse hoje?!

Se tu morresses hoje…eu morreria amanhã…