O vento...esse vinha de sul, quente, vergando as douradas hastes floridas, secando-me o rosto, ameno, forte, quente. As colinas dançavam ao seu som, as flores amarelas douradas bruxuleavam, e o cheiro a verão contrastava com os tons sépia do céu...não havia sol, nem chuva, somente o vento que me fustigava o rosto. Não era eu que me mexia era as colinas que se arrastavam sobre os meus pés, não era eu que me aproximava daquela solitária árvore, aquele carvalho de copa arredondada que se deixava iluminar pelos reflexos plácidos das flores amarelas que o cercavam. O chão parou quando a orla da sombra da árvore ficou a um pequeno passo de mim, o vento queria que eu me movesse aquele pequeno passo. E, levando por mim, entrei na sombra luminosa... As folhas dobravam-se com o vento, fazendo um ruido de cristal, multiplicado, aumentado, ensurdecedor...por entre as folhas entrava a luz, e eu viu, de costas para mim, mergulhado no meio daqueles pesados livros, cercado pela muralha de calhamaços...tao pequeno e frágil... Não sabia se me devia aproximar, mas o vento sussurrou mais forte que sim, as paginas que ele virava fazia um ruido, lançavam um pedido para que eu me aproximasse…e fui aproximando-me, sem fazer barulho, olhando para aquela cabeça que se deixava cair sobre o interior de um qualquer atlas, a cabecita de cabelo cor de palha velha era acariciada pelo vento.
Somente quando me aproximei a uns 2 pequenos passos dos primeiros livros caídos e empilhados percebi que era uma criança, um miúdo, com pouco mais de 8 anos, 9 mirrados talvez, que frenético fazia correr o olhar pelas linhas serradas de palavras.
Hesitei, não queria estar ali, sabia que não devia estar ali, o vento percebeu, e uma doce rajada vinha de este fez alguns livros abrirem, e fez despertar o rapaz daquele mantra em que se mantinha. Levantou a cabeça, devagar, sentindo o cheiro que parecia diferente, sentindo talvez o meu cheiro, tentando perceber o que estava ali que não era dali, deixando ser outros sentidos, em vez da visão, a dizerem-lhe porque o vento do seu mundo lhe tinha dado aquele sinal. Talvez por isso não tenha sido surpresa quando se virou para trás, por entre as duas maiores torres bíblicas, e me viu, sorriu…esbugalhou os olhos, abriu ainda mais aquele sorriso que vazia umas tímidas covinhas e me falou, como se me conhecesse, como se fosse amigo de longa data, como se eu fosse único, como se fosse o seu único amigos, a única pessoa que existia no seu mundo, naquelas colinas, sobre aquela frondosa arvore.
E foi daquela mesma forma natural que eu, olhando para mim, me perguntei a mim mesmo, de olhos brilhantes e ansiosos por me cativar:
- Queres ler comigo?! Diz que sim…por favor, és a única pessoa que passou por aqui desde sempre,…
-Sim, eu sei…- condescendi com a cabeça conhecendo a sua minha própria história, vendo aqueles meus olhos que já não via à longos anos.
- Então senta-te e fica aqui comigo…por favor…fica contigo…
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