terça-feira, 7 de maio de 2013

Estrada


Irás partir. Voltar costas, como tantos e tantas outras vezes.
Não vez como longo é o caminho? Como longe a estrada vai? Vês que lá ao fundo a linha do horizonte se junta com o pó da estrada?  Olha como longa é a estrada…tens a certeza que a queres fazer sozinho?
Sim, o caminho é meu, eu irei faze-lo sozinho!
Os caminhos nunca são para serem feitos sozinhos, os teus pés não terão somente que ter a poeira do chão, terão que ter também o conforto das águas correntes.
Seguirei sozinho…
Então não olhes para trás! Faz-te a estrada, faz-te ao teu caminho, mas não olhes para trás! Não fiques com remorsos, não fiques preso ao que deixas! Segue o teu caminho, vai em direcção ao poente, pela estrada longa e cheia de curvas, mas que é a tua estrada…faz-te ao teu caminho, mas peço-te…não olhes para trás! Nunca olhes para trás!
Sim, farei o meu caminho, mas porque não queres que olhe para trás?
Não quero que ao olhares para trás me veja a dois passos de ti…  
Como….?
Seguirás o teu caminho, irás seguir em frente, acumularas sobre ti a poeira do caminho, os teus pés irão sofrer as agruras da estrada, do teu rosto irão cair lagrimas, sulcando a tua cara suja, até que secarão, e nem uma lagrima conseguirás verter.  Quando olhares ao teu lado e vires nada, somente a solidão, nessa altura sei que olharás para trás, e será nesse momento que vais perceber que nunca estiveste sozinho na estrada, que a dois passos de ti estava eu, que se tombasses eu estaria ali para te segurar, para te aliviar as dores do caminho, para aplicar o balsamo sobre as feridas e chagas abertas…nessa altura irias perceberes que alguém estava atrás de ti, que nunca estiveste só no teu caminhos, e perceberias que os caminhos não se fazem sozinhos, mesmo que tenhas pensado que sim, mesmo que te tenha deixado iludir, que tenhas pensado que estiveste a fazer o teu caminho sozinho, que foste o único que comeu o pó da estrada…mas não, longe disso, nessa altura irás perceber que o pó que os teus pés levantavam era comido pela minha boca, por mim que andava somente a dois passos de ti. Percebes agora o que é o caminho? Percebes para onde queres ir? Percebes afinal…?
Sim…percebo…
E mesmo assim queres-te fazer ao caminho? Queres-te fazer a estrada? Queres seguir para longe?
Sim, quero…é o meu caminho…-e olhando para longe, para o poente acrescentou- mas quero que venhas comigo, ao meu lado, não dois passos atras, mas somente a distância de meio braço de mim. Não será jamais o meu caminho, será o nosso caminho,- segurando na minha mão, os olhos brilhando como nunca haviam brilhado – Partes comigo? Vamos juntos até ao poente? Vamos comer juntos o pó da estrada para que seja mais fácil o caminho? Vens comigo?
Sorrindo, apertei a mão, apertei os dedos entre os meus dedos: Sim, partiremos então que o sol vai alto e a estrada…como bela é a estrada.

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