quinta-feira, 16 de maio de 2013

Vento

Hoje o vento soprou forte de norte. Frio e tao forte que me fez estremecer a cabeça, trucidou-me sobre a falésia, senti as pernas cederem, o corpo a resvalar sobre o seu próprio peso…e por ali ficou, abandonado como sempre havia ficado, uma coisa despojada de vida, repleta se sonhos e de esperança que se iam sumindo como se fosse um fluido que se desalojava do corpo. Abriu-se o pequeno relicário que tinha pendurado ao fio no pescoço. E o vento levou as cinzas, as pequenas cinzas que estavam ali guardadas, memorias que já se resumiam a pó, sorrisos que foram pulverizados, esperanças….oh, tantas esperanças…
Quando me consegui levantar o vento continuava forte, impassível de tudo, a cada rajada ameaçava-me lançar mais uma vez por terra. Vergado pelo peso, sucumbido pelo vazio, deambulei perdido pelas ruas da velha cidade, sorrindo, pediam um abraço, aos vultos que se cruzavam comigo, que me viravam as costas, que se afastavam…
Quando acordei ao fim daquele dia pensei que pelo menos as coisas tivessem sido realidade, mas quando, por instinto, levei a mão ao peito, senti o frio metal que me magoava, afinal não se pode apagar as memorias, não se podem apagar as esperanças que deste vez fossem diferentes as coisas que à tantos longos anos veem sendo tao iguais…e amanha sorrirei, como se nada fosse, mesmo que o vento não sopre, amanhã serei mais um vulto no meio de todos os outros, mas sorrirei, terei o maior dos meus sorrisos…porque afinal ninguém merece ver uma lágrima, uma das mais pequenas lagrimas minhas… 

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