Hoje o
vento soprou forte de norte. Frio e tao forte que me fez estremecer a cabeça,
trucidou-me sobre a falésia, senti as pernas cederem, o corpo a resvalar sobre
o seu próprio peso…e por ali ficou, abandonado como sempre havia ficado, uma
coisa despojada de vida, repleta se sonhos e de esperança que se iam sumindo
como se fosse um fluido que se desalojava do corpo. Abriu-se o pequeno relicário
que tinha pendurado ao fio no pescoço. E o vento levou as cinzas, as pequenas
cinzas que estavam ali guardadas, memorias que já se resumiam a pó, sorrisos
que foram pulverizados, esperanças….oh, tantas esperanças…
Quando me consegui levantar o vento continuava forte, impassível de tudo, a
cada rajada ameaçava-me lançar mais uma vez por terra. Vergado pelo peso,
sucumbido pelo vazio, deambulei perdido pelas ruas da velha cidade, sorrindo,
pediam um abraço, aos vultos que se cruzavam comigo, que me viravam as costas,
que se afastavam…
Quando acordei ao fim daquele dia pensei que pelo menos as coisas tivessem sido
realidade, mas quando, por instinto, levei a mão ao peito, senti o frio metal
que me magoava, afinal não se pode apagar as memorias, não se podem apagar as
esperanças que deste vez fossem diferentes as coisas que à tantos longos anos
veem sendo tao iguais…e amanha sorrirei, como se nada fosse, mesmo que o vento não
sopre, amanhã serei mais um vulto no meio de todos os outros, mas sorrirei,
terei o maior dos meus sorrisos…porque afinal ninguém merece ver uma lágrima,
uma das mais pequenas lagrimas minhas…
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