domingo, 16 de junho de 2013

cedro

Era aquele o sítio. O cedro, o velho cedro, retorcia-se com o vento que vinha das escarpas, do vento que se erguia constante do mar, vergastando-o, açoitando-o, vergando-o contra o chão e mesmo assim ali estava ele, robusto, vivendo, agachado, ultrajado, mas sobrevivendo.
Foi a esse cedro que ele atou a fita que trazia fazia tanto tempo dentro do seu bolso. Era aquele o local, era aquele o momento. Na fita tinha escrito tudo aquilo que estava por dizer, todos os segredos, todos os desejos, todos os sonhos…sim, em especial os sonhos que se alinhavam em cada ponto da pequena fita que ficou a agitar-se ao vento sul.
Esperou que fosse o vento a leva-la, um dia, para longe e assim esperou que ficasse mais leve, quis acreditar que assim…deixou no cedro, de fronte para o mar, naquele ponto final, onde a terra acaba e o mar…e o vasto mar começa…   

terça-feira, 11 de junho de 2013

Segredo

Sabes que eu já pensei que gostei de ti?! E ainda hoje não sei  bem, passados tantos dias, semanas e tantos momentos, ainda não percebi se gostei ou se gosto de ti!
Sei que encontro paz junto de ti, que me consegues acalmar, que não deixo de sorrir e de sentir melhor perto de ti! Sei que gosto de sentir o calor dos teus braços que me abraçam, do jeito como que me apertas contra ti…
Sei o que me dói, como fico, quando te vejo partir, o vazio que fica ao meu lado quando te despedes, nem que seja num breve até já, dás-me saudades, aperta-me o peito, a angustia sobe à garganta e me sinto cheio daquele ardor, do desejo de te ter de novo perto de mim, para sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, olhar no teu olhar, afagar docemente a tua mão por entre os meus dedos, a festa que te fiz no rosto duas ou três vezes enquanto dormias…
E continuou sem saber o que é isto, continuo sem saber se lhe devo de apelidar de amor, porque o seu somatório não é somente uma operação aritmética simples, e tu, como eu, colocamos todas as nossas variáveis, internas ou externas, e são essas que medeiam todas as nossas relações…

Talvez nunca me percebas…assim como eu nunca te irei perceber…mas sei que estaremos sentados naquele banco, frente ao mar, enquanto o sol se poe, e enquanto de mim se apodera o terror, que ma faz tremer as pernas fraquejarem e tu…tu finalmente pegaras na minha mão com a tua bruta delicadeza, irás apertar os meus dedos por entre os teus, vais olhar para mim, olhos nos olhos como até então nunca tinhas olhado e irás ver esse terror como um reflexo desse sol rubro no meu olhar húmido. Sorriras para mim e por fim dirás: Não tens que ter medo, não tremas, não temas, liberta-te desse terror…porque eu estou, como sempre estive aqui, mesmo quando não sentiste, mesmo quando tu procuravas o meu mundo e encontravas as sombras frias, quando procuravas o meu consolo nos teus sonhos e não vendo que eu estava aqui, que nunca estive longe e agora tens em ti a minha paz…    

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A pergunta que faltava ser feita....

....e depois de ouvir tudo o que lhe tinha dito, olhou para mim, bateu com a mão sobre o balcão e disse:
- Tu amas-lo!
e a voz não saiu, pois aquilo era uma afirmação...e o  silencio ficou, e a mente contraiu-se violentamente, e teve que fugir para nao ser atropelado pelo que afinal parecia ser a realidade...
No fim aquelas palavras ficaram a bater durante toda a noite...
- TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!

E já não sabia o que era verdade, se aquilo era verdade ou somente uma ilusão, mas o peito apertou-se, o coração sentiu-se esmagado e pequeno, e desenhou com um pedaço de giz um quadrado e ali dentro, sozinho, estava protegido....mas não esquecia aquelas palavras....TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!TU AMAS-LO!!!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Saudade

Ele sentava-se a sua frente, ali fazia horas e mesmo assim as palavras que lhe disse não era estranhas:

«tenho saudades tuas»- dito num tom  contido, olhando o tampo da mesa.

«saudades de mim? Mas eu estou aqui! Estamos aqui a horas, estou contigo tudo o tempo que conseguimos estar …e tu dizes que tens saudades?!»

Levantando o olhar, fitando-o nos olhos, com raiva, libertando aquilo que tinha dentro do coração e tudo aquilo que ficava algures preso dentro de si.


«Mesmo tu estando aqui à minhas frente…eu não poderia ter mais saudades de ti!» e as lágrimas, finalmente, escorria …

sábado, 1 de junho de 2013

Espistola

Escrevo-te a ti, meu futuro, aqui algures do teu passado deixo-te esta carta. É cheio de esperança que te escrevo, porque sei que estas bem, que afinal tudo correu bem. Sei que encontraste a felicidade, a tua felicidade, aquela que eu não tive a capacidade de encontrar mas que tu conseguiste.

Olho em redor e vejo as ruínas que te deixei, as construções mal-amanhadas, tortas, as ruínas e as fundações mal feitas, tudo aquilo que te deixei no meio deste terreno e que tu, pegando no que valia a pena, derrubando as paredes tortas, construindo, reforçando, projectando de modo eficaz conseguiste fazer uma das mais belas construções que alguma vez alguém poderia idealizar. Quem havia de dizer que partiu tudo daqui!

E como verdes e frondosas estão as veredas pelo meio dos jardins, onde havia capim e ervas daninhas, até dá gosto ver como dão frutos as macieiras, como as cerejeiras se vergam carregadas de pequenos e carnudos bagos de vida doce!
Conta-me, já gostas do por do sol, não gostas? Por certo que sim! Finalmente alguém te mostrou a beleza daquele momento, e diz-me: mostraste como belo é aquele momento em que o sol já se pôs e o céu esta purpura, anil, roxo e a estrela da tarde começa a brilhar tímida mas convicta sobre ti?

Manténs os velhos hábitos? Ainda vagueias a horas mortas pelas ruas vazias? Não…não creio que o faças sozinho, continuas a faze-lo, mas já não o fazes sozinho como outrora fizemos e as ruas já não são tao despidas, e as ruas assim já não são tao frias! Gosto de o saber, alivia-me e consigo esboçar um largo e franco sorriso por ti!

Posso ver que afinal as coisas que fiz, mesmo as mais erradas, mesmo as piores, mesmo aquelas que pensavam serem potenciadoras de destruição foram somente ensinamentos, experiencia de crescer…Sabia que iria valer a pena, afinal eu estou aqui hoje e tu estas amanhã, afinal eu sou o teu passado e tu o meu futuro!
Espero um dia receber esta mesma carta, amanhã, do nosso futuro, afinal é esse o destinatário!
O teu Pretérito….


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fica aqui comigo...ficas?!

O vento...esse vinha de sul, quente, vergando as douradas hastes floridas, secando-me o rosto, ameno, forte, quente. As colinas dançavam ao seu som, as flores amarelas douradas bruxuleavam, e o cheiro a verão contrastava com os tons sépia do céu...não havia sol, nem chuva, somente o vento que me fustigava o rosto. Não era eu que me mexia era as colinas que se arrastavam sobre os meus pés, não era eu que me aproximava daquela solitária árvore, aquele carvalho de copa arredondada que se deixava iluminar pelos reflexos plácidos das flores amarelas que o cercavam. O chão parou quando a orla da sombra da árvore ficou a um pequeno passo de mim, o vento queria que eu me movesse aquele pequeno passo. E, levando por mim, entrei na sombra luminosa... As folhas dobravam-se com o vento, fazendo um ruido de cristal, multiplicado, aumentado, ensurdecedor...por entre as folhas entrava a luz, e eu viu, de costas para mim, mergulhado no meio daqueles pesados livros, cercado pela muralha de calhamaços...tao pequeno e frágil... Não sabia se me devia aproximar, mas o vento sussurrou mais forte que sim, as paginas que ele virava fazia um ruido, lançavam um pedido para que eu me aproximasse…e fui aproximando-me, sem fazer barulho, olhando para aquela cabeça que se deixava cair sobre o interior de um qualquer atlas, a cabecita de cabelo cor de palha velha era acariciada pelo vento.
Somente quando me aproximei a uns 2 pequenos passos dos primeiros livros caídos e empilhados percebi que era uma criança, um miúdo, com pouco mais de 8 anos, 9 mirrados talvez, que frenético fazia correr o olhar pelas linhas serradas de palavras.
Hesitei, não queria estar ali, sabia que não devia estar ali, o vento percebeu, e uma doce rajada vinha de este fez alguns livros abrirem, e fez despertar o rapaz daquele mantra em que se mantinha. Levantou a cabeça, devagar, sentindo o cheiro que parecia diferente, sentindo talvez o meu cheiro, tentando perceber o que estava ali que não era dali, deixando ser outros sentidos, em vez da visão, a dizerem-lhe porque o vento do seu mundo lhe tinha dado aquele sinal. Talvez por isso não tenha sido surpresa quando se virou para trás, por entre as duas maiores torres bíblicas, e me viu, sorriu…esbugalhou os olhos, abriu ainda mais aquele sorriso que vazia umas tímidas covinhas e me falou, como se me conhecesse, como se fosse amigo de longa data, como se eu fosse único, como se fosse o seu único amigos, a única pessoa que existia no seu mundo, naquelas colinas, sobre aquela frondosa arvore.
E foi daquela mesma forma natural que eu, olhando para mim, me perguntei a mim mesmo, de olhos brilhantes e ansiosos por me cativar:
- Queres ler comigo?! Diz que sim…por favor, és a única pessoa que passou por aqui desde sempre,…
-Sim, eu sei…- condescendi com a cabeça conhecendo a sua minha própria história, vendo aqueles meus olhos que já não via à longos anos.
- Então senta-te e fica aqui comigo…por favor…fica contigo…

sábado, 25 de maio de 2013

Porque já doi aqueles que partem...