quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fica aqui comigo...ficas?!

O vento...esse vinha de sul, quente, vergando as douradas hastes floridas, secando-me o rosto, ameno, forte, quente. As colinas dançavam ao seu som, as flores amarelas douradas bruxuleavam, e o cheiro a verão contrastava com os tons sépia do céu...não havia sol, nem chuva, somente o vento que me fustigava o rosto. Não era eu que me mexia era as colinas que se arrastavam sobre os meus pés, não era eu que me aproximava daquela solitária árvore, aquele carvalho de copa arredondada que se deixava iluminar pelos reflexos plácidos das flores amarelas que o cercavam. O chão parou quando a orla da sombra da árvore ficou a um pequeno passo de mim, o vento queria que eu me movesse aquele pequeno passo. E, levando por mim, entrei na sombra luminosa... As folhas dobravam-se com o vento, fazendo um ruido de cristal, multiplicado, aumentado, ensurdecedor...por entre as folhas entrava a luz, e eu viu, de costas para mim, mergulhado no meio daqueles pesados livros, cercado pela muralha de calhamaços...tao pequeno e frágil... Não sabia se me devia aproximar, mas o vento sussurrou mais forte que sim, as paginas que ele virava fazia um ruido, lançavam um pedido para que eu me aproximasse…e fui aproximando-me, sem fazer barulho, olhando para aquela cabeça que se deixava cair sobre o interior de um qualquer atlas, a cabecita de cabelo cor de palha velha era acariciada pelo vento.
Somente quando me aproximei a uns 2 pequenos passos dos primeiros livros caídos e empilhados percebi que era uma criança, um miúdo, com pouco mais de 8 anos, 9 mirrados talvez, que frenético fazia correr o olhar pelas linhas serradas de palavras.
Hesitei, não queria estar ali, sabia que não devia estar ali, o vento percebeu, e uma doce rajada vinha de este fez alguns livros abrirem, e fez despertar o rapaz daquele mantra em que se mantinha. Levantou a cabeça, devagar, sentindo o cheiro que parecia diferente, sentindo talvez o meu cheiro, tentando perceber o que estava ali que não era dali, deixando ser outros sentidos, em vez da visão, a dizerem-lhe porque o vento do seu mundo lhe tinha dado aquele sinal. Talvez por isso não tenha sido surpresa quando se virou para trás, por entre as duas maiores torres bíblicas, e me viu, sorriu…esbugalhou os olhos, abriu ainda mais aquele sorriso que vazia umas tímidas covinhas e me falou, como se me conhecesse, como se fosse amigo de longa data, como se eu fosse único, como se fosse o seu único amigos, a única pessoa que existia no seu mundo, naquelas colinas, sobre aquela frondosa arvore.
E foi daquela mesma forma natural que eu, olhando para mim, me perguntei a mim mesmo, de olhos brilhantes e ansiosos por me cativar:
- Queres ler comigo?! Diz que sim…por favor, és a única pessoa que passou por aqui desde sempre,…
-Sim, eu sei…- condescendi com a cabeça conhecendo a sua minha própria história, vendo aqueles meus olhos que já não via à longos anos.
- Então senta-te e fica aqui comigo…por favor…fica contigo…

sábado, 25 de maio de 2013

Porque já doi aqueles que partem...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Duas estorias a uma voz...


Havia algo naquele abraço, diferente de todos os abraços, mais forte que todos os abraços que havíamos trocado.
Havia algo de estranho no aceno. No adeus que te acenei ao longe, diferente de todos os adeus que te dei.

Senti o teu corpo tão perto do meu, o calor do teu peito, o coração que acelerado batia dentro dele, querendo saltar para fora!
A distancia mal dava para ver o teu olhar, para te sentir, para notar que eras mesmo tu e não um qualquer retrato atrás de um vidro.

A minha mão apertou a tua cabeça contra o meu peito, desceu para a nuca que apertei, na esperança que sentisse todo aquilo que no meu peito estava desejoso por sair…
A minha mão caiu inanimada, mesmo com o teu sorriso, ela tombou ao longo do meu corpo, um adeus que ficava assim, escondendo tanta coisa que havia para dizer…

Fiquei a ver-te partir, a fechares a porta, a não olhares para trás, enquanto eu esperava que olhasses, enquanto o meu sorriso se ia esmorecendo e tu, afastando-te cada vez mais, seguias em frente sem olhar para quem deixavas ali, sentindo o calor do teu corpo.
Virei costas, partia, era eu que partia, levava o teu sorriso, as memórias do afecto, de tudo aquilo que eu significava para ti, afastando-me cada vez mais não pode resistir e olhei para trás, olhei para ti enquanto te deixava, fiz-te sorrir e o teu olhar mostrou que não querias que eu fosse, pedia para que eu ficasse

Mas tu partiste
Mas eu parti

E somente ficou a certeza de que tudo podia ser tão diferente…
E somente ficou a certeza de que tudo podia ser tão diferente…

terça-feira, 21 de maio de 2013

Dialogo


-Tu és o típico Omega

 - ómega?

- Existe o alfa o beta e o ómega, como nas matilhas de lobos:
 o ómega e aquele que faz tudo pelos outros que mantem a matilha unida que se sacrifica que cria o bem estar mas nao e o líder nao e quem comanda mas indirectamente é ele que mantem a união que da o amor … e que no fim e o que esta sempre sozinho

-.......

Prenda

"porque és um Anjo da Guarda para tanta gente...mas também a ti te faz falta um Anjo da Guarda que te guarde e te proteja..."

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Vento

Hoje o vento soprou forte de norte. Frio e tao forte que me fez estremecer a cabeça, trucidou-me sobre a falésia, senti as pernas cederem, o corpo a resvalar sobre o seu próprio peso…e por ali ficou, abandonado como sempre havia ficado, uma coisa despojada de vida, repleta se sonhos e de esperança que se iam sumindo como se fosse um fluido que se desalojava do corpo. Abriu-se o pequeno relicário que tinha pendurado ao fio no pescoço. E o vento levou as cinzas, as pequenas cinzas que estavam ali guardadas, memorias que já se resumiam a pó, sorrisos que foram pulverizados, esperanças….oh, tantas esperanças…
Quando me consegui levantar o vento continuava forte, impassível de tudo, a cada rajada ameaçava-me lançar mais uma vez por terra. Vergado pelo peso, sucumbido pelo vazio, deambulei perdido pelas ruas da velha cidade, sorrindo, pediam um abraço, aos vultos que se cruzavam comigo, que me viravam as costas, que se afastavam…
Quando acordei ao fim daquele dia pensei que pelo menos as coisas tivessem sido realidade, mas quando, por instinto, levei a mão ao peito, senti o frio metal que me magoava, afinal não se pode apagar as memorias, não se podem apagar as esperanças que deste vez fossem diferentes as coisas que à tantos longos anos veem sendo tao iguais…e amanha sorrirei, como se nada fosse, mesmo que o vento não sopre, amanhã serei mais um vulto no meio de todos os outros, mas sorrirei, terei o maior dos meus sorrisos…porque afinal ninguém merece ver uma lágrima, uma das mais pequenas lagrimas minhas… 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Considerações...


A medida que vamos crescendo vamos sendo educados, ou vão tentando nos educar no sentido do que é bom, do que é certo, do que é correcto…num resumo, vão nos tentando meter dentro da caixa, meter dentro da multidão, sermos mais um, somente mais um. Na realidade trata-se de uma arma, estão a dar-nos uma arma para nos defendermos, alias, antes de nos defendermos, é um escudo para que não nos ataquem, para que cada um de nos seja mais um invisível no meio da massa amorfa e compacta e difusa que se move segundo qualquer horário, qualquer chegada de comboio, partida de metro, entrada no trabalho fila de compras, fila de carros, sempre ordenados, sempre concretos, sempre correctos!!! Sempre como vai a maré também tu deves de ir…é mais fácil, é sempre muito mais simples…
O CARAGO! Não acredites nisso, nunca acredites nisso!!! Rema contra a maré, pensa fora da box! Reage contra a massa amorfa, contra os mil-se-nome com quem te cruzas, se um com nome, afirma o teu nome acima da multidão. Não te limites nem deixes que te limitem, que te castrem que destruam a tua individualidade…afinal tu és tu…der por onde der…  

quarta-feira, 8 de maio de 2013


terça-feira, 7 de maio de 2013

Estrada


Irás partir. Voltar costas, como tantos e tantas outras vezes.
Não vez como longo é o caminho? Como longe a estrada vai? Vês que lá ao fundo a linha do horizonte se junta com o pó da estrada?  Olha como longa é a estrada…tens a certeza que a queres fazer sozinho?
Sim, o caminho é meu, eu irei faze-lo sozinho!
Os caminhos nunca são para serem feitos sozinhos, os teus pés não terão somente que ter a poeira do chão, terão que ter também o conforto das águas correntes.
Seguirei sozinho…
Então não olhes para trás! Faz-te a estrada, faz-te ao teu caminho, mas não olhes para trás! Não fiques com remorsos, não fiques preso ao que deixas! Segue o teu caminho, vai em direcção ao poente, pela estrada longa e cheia de curvas, mas que é a tua estrada…faz-te ao teu caminho, mas peço-te…não olhes para trás! Nunca olhes para trás!
Sim, farei o meu caminho, mas porque não queres que olhe para trás?
Não quero que ao olhares para trás me veja a dois passos de ti…  
Como….?
Seguirás o teu caminho, irás seguir em frente, acumularas sobre ti a poeira do caminho, os teus pés irão sofrer as agruras da estrada, do teu rosto irão cair lagrimas, sulcando a tua cara suja, até que secarão, e nem uma lagrima conseguirás verter.  Quando olhares ao teu lado e vires nada, somente a solidão, nessa altura sei que olharás para trás, e será nesse momento que vais perceber que nunca estiveste sozinho na estrada, que a dois passos de ti estava eu, que se tombasses eu estaria ali para te segurar, para te aliviar as dores do caminho, para aplicar o balsamo sobre as feridas e chagas abertas…nessa altura irias perceberes que alguém estava atrás de ti, que nunca estiveste só no teu caminhos, e perceberias que os caminhos não se fazem sozinhos, mesmo que tenhas pensado que sim, mesmo que te tenha deixado iludir, que tenhas pensado que estiveste a fazer o teu caminho sozinho, que foste o único que comeu o pó da estrada…mas não, longe disso, nessa altura irás perceber que o pó que os teus pés levantavam era comido pela minha boca, por mim que andava somente a dois passos de ti. Percebes agora o que é o caminho? Percebes para onde queres ir? Percebes afinal…?
Sim…percebo…
E mesmo assim queres-te fazer ao caminho? Queres-te fazer a estrada? Queres seguir para longe?
Sim, quero…é o meu caminho…-e olhando para longe, para o poente acrescentou- mas quero que venhas comigo, ao meu lado, não dois passos atras, mas somente a distância de meio braço de mim. Não será jamais o meu caminho, será o nosso caminho,- segurando na minha mão, os olhos brilhando como nunca haviam brilhado – Partes comigo? Vamos juntos até ao poente? Vamos comer juntos o pó da estrada para que seja mais fácil o caminho? Vens comigo?
Sorrindo, apertei a mão, apertei os dedos entre os meus dedos: Sim, partiremos então que o sol vai alto e a estrada…como bela é a estrada.